Do direito ao UX: minha experiência de migração

Dores e dificuldades, reflexões e desabafos, como vim parar aqui: minha experiência e estratégias para migrar de Direito para UX.

Beatriz Miranda
UX Collective 🇧🇷
16 min readJan 9, 2023

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Imagem com fundo repartido entre branco e preto com, respectivamente, uma balança como símbolo que remete ao Direito com o texto “vs UX”
Direito vs UX (créditos)

Oi! Vim expor minha experiência de migração de Direito para UX Design.

Espero que minha perspectiva ajude de alguma forma você, que está pensando: “devo ou não migrar para o lado UX da força?”, ou simplesmente esteja curioso/stalkeando a minha trajetória.

Bora lá!

Observação:

Esse é um texto de perspectiva pessoal.
Pode ser que me estenda em dados momentos, mas tenho motivos (um deles, com certeza,
é escrever demais, mas não é só isso).

Também exagero em memes de cultura pop, então, por favor, tenha paciência e lembre-se que as legendas não necessariamente tem a ver com o contexto da imagem ou foram ditas pela persona que ali esteja.

Por fim, leia com carinho e, na vibe coach/startup: curta a jornada!

Início: querida crise existencial

Imagem de uma mulher branca de cabelo castanho misturado com loiro, sentada em uma cama, com a postura de quem está explicando algo com a legenda “Ninguém nunca vai entender a dor que eu estou sentindo agora”.
Compartilhei de mesma situação desta moça que desconheço tanto como o reality show pelo qual surgiu.

Há muito tempo, as nações viviam em paz e harmonia… mas tudo isso mudou quando a crise existencial atacou.

Sou materialista, vulgo Madonna: “cause we are living in a material world […]”. Não pergunte meu signo, pois haverá decepção. Ou talvez sim, mas precisamos ser mais que amigos: fiadores! Só assim para atingir o nível mais alto com potencial de inimizade futura.

Quando decidi entrar para o Direito, buscava estabilidade financeira. Não venho de família de grande poder monetário, não tenho costa quente ou investi em Onlyfans, então, queria me especializar para disputar cargos públicos com remunerações altas.

Imagem da personagem de novela Nazaré Tedesco, vestida de preto, deitada sobre várias notas de dinheiro.
Como Nazaré Tedesco: eu quero é dinheiro, meu bem!

Afinal, meu primeiro emprego foi no Tribunal de Justiça de São Paulo, num cartório que lidava com ações de Direito Civil, no Fórum de Osasco (um beijo, Quinto Cível!).

Via o pessoal ganhando uma boa grana num serviço interessante, então, tudo fazia sentido na minha cabeça de 17 anos. Mas nada é um mar de rosas e eu, infelizmente, era ingênua demais.

Não é novidade que o curso de Direito é ostensivo. Forma turmas com pelo menos 25 a 30 alunos em um mercado totalmente já abarrotado e saturado de profissionais. Tornou-se uma questão de contatos: quem tem se vira bem, quem não tem morre seco. Inclusive, se não cursou na USP, PUC, Mackenzie, São Judas — faculdades renomadas de SP — o choro é livre, pois era/é requisito em muitas vagas.

Inclusive sim, meu objetivo era concursos públicos, mas também é muitíssimo concorrido, demanda tempo, às vezes anos para ter um resultado positivo, então sabia que teria de atuar no setor privado — nem que fosse obrigada.

Quando essa realidade começou a bater na porta e, no penúltimo ano da faculdade, não tive êxito nas candidaturas às vagas por conta das dificuldades da pandemia, principalmente em advocacias, permaneci em uma área jurídica não tão ligada à judicial: legalização de empresas. Eu abria, alterava, encerrava CNPJs, dentre outros processos jurídicos para empresas.

Eu gostava de trabalhar com isso? Gostava! Tudo bem que meu início de carreira nisso foi conturbado, não tive as melhores personas para me guiar, mas manjava e manjo da malemolência de redigir contratos empresariais. Mas gostava até certo ponto. Eu precisava muito ter experiência em advocacias e não queria trabalhar com legalização para sempre.

Em 2021, mudei para Pernambuco, mas prossegui buscando oportunidades na área, mesmo infeliz, pois o meu foco prosseguia sendo a questão financeira. Contudo, não contei com o que esse foco ia me custar: minha saúde mental que estava um caco e eu não admitia nem a pau.

Não é fácil. Não é fácil dedicar 5 anos em uma carreira para, no fim, descobrir que não está feliz com ela e suas projeções. Eu nem cheguei a admitir, só fui encurralada pela minha noiva (hoje esposa) na época. Ou seja, cheguei a esse nível porque não queria largar o osso. Acredito que seja a realidade de muitos profissionais hoje em dia:

Permanecemos em profissões que não nos encaixamos mais porque demos duro para estar ali.

Sinceramente? Tudo bem. Valorizem-se mesmo, ninguém está errado em reconhecer o próprio esforço.

Mas se o resultado ignora a sua paz, não te faz feliz, não encaixa mais em você, certamente algo está muito errado aí.

Mudanças não são fáceis, mas estagnar também não é.

A questão é: mudar pode te levar a algo. Estagnar nunca te tirará dali.

Decisão: migrar ou não?

Imagem de youtuber Tulla Luana, mulher branca de cabelo preto curto, tomando um copo esverdeado de água com um semblante muito preocupado.
Tensa? Sim, mas desidratada jamais.

Após levar uns tapas verbais em relação à minha estagnação, novamente minha esposa, Hannah, me incentivou a pesquisar sobre UX. Ela sempre foi da área de tecnologia/desenvolvimento e já ouvia falar sobre.

Sempre fui interessada por Design, então isso foi o pulo do gato. Tão interessada que cogitei me graduar um tempo antes de a roda girar e cair no Direito. Eu já sabia mexer em programas como Photoshop, Illustrator, Corel Draw, consumia conteúdos sobre (gostava muito de ler na Design Culture), inclusive já havia visto o termo UX em alguns artigos, porém não cheguei a me aprofundar.

Finalmente li e fiquei muito interessada. Busquei participar de uma mini introdução em UX e pensei: certo, isso é muito interessante e acredito que consigo aprender.

Era uma junção de duas coisas que eu tinha interesse e aptidão: pesquisa vs design. Fui caroçar e comprei a loja; basicamente foi o que ocorreu. Pouco depois descobri haver uma área com foco em escrita/redação, e daí rolou um romance sem igual ao nível fanfic de Naruto.

Por já ter tido um pé na área antes, isso me deixou extremamente frustrada. “Eu deveria ter feito, mesmo”, foi o que pensei. Mas não posso negar a minha construção pessoal pela ótica jurídica. Criei e aprimorei muitos aspectos da minha pessoa; analíticos, comportamentais… Gosto do que adquiri com esse conhecimento. Muito provável existe exatamente para outro desafio.

Se sentir o mesmo, pense nisso: gostaria de abandonar tudo o que construiu?

Se não faz diferença para você, entendo super a sua frustração, mas há tempo para tudo, não é mesmo? Bora construir!

Guarda-chuva do UX: no abraço de mãe, cabe todo mundo

A área de UX é um grande guarda-chuva, ou seja, fonte de diversas subáreas: UI Design (design de interfaces), UX Research (pesquisa), UX Writing/Content (escrita para interfaces), etc.

É um dos aspectos que mais gosto daqui, pois tem de tudo.

Uma imagem da cantora Inês Brasil apontando para o braço com a legenda “É aquele ditado: fico toda arrepiada””
Comovida diria.

Exatamente por gostar deste aspecto que não me limitei a uma subárea só, inclusive nem recomendaria isso a uma pessoa iniciante, sendo franca.

É ideal passear pelas bolhas para, então, definir o que gosta mais e, se quiser se especializar, seguir aquele rumo ou, simplesmente, ser generalista mesmo. Inclusive desmistificar isso, de ser plural, foi algo que criei maturidade quando passei a migrar.

Podemos ser plurais e tudo bem com isso, só mostra que temos um raciocínio tão bom que conseguimos caminhar em várias linhas de trabalho com tranquilidade. E eu amo ser assim. Não mudaria nadica de nada.

Mas na real mesmo? Mesmo sendo generalista, você tem que ser um pouquinho especialista. Vez ou outra irão perguntar se curte mais UX ou UI, por exemplo.

Eu por exemplo achava que ia amar a área de Content/Writing só porque gostava de escrever, mas escrever para interfaces é outra coisa. Dizia ser mais de UI, mas passei a gostar mais de pesquisa recentemente, então estou me especializando lentamente.

Dificuldades: Brazil, I’m devastated

Uma imagem de uma mulher olhando para trás com a legenda: “que choradeira é essa aqui meu deus?”
Quando penso que estou perto do fim, mas continuo no começo.

Brasil, estou devastada em PT/BR. Dor e sofrimento. Meus maiores motivos para crises de ansiedade:

1. Entender a lógica de uso de frameworks e métodos

Isso me pegou porque os métodos podem ser semelhantes. Os cursos/bootcamps podem te dar uma ideia de quais tipos, mas podem pecar em como e onde aplicá-los.

Então como fazer essa diferenciação? Admito que só a prática me demonstrou. Aliás, há muitos métodos para se aplicar em uma mesma situação. Às vezes vai ser mais questão de gosto dos envolvidos/time para determinar o que usar, no fim das contas.

2) Entender que não preciso decorar todos os frameworks

Adorava salvar aqueles kits de UX achando que usaria tudo, mas você só precisa do arroz e feijão para que o resto faça muito sentido na cabeça.

Quando entendi isso, inclusive que não há certo ou errado, comecei a ter uma perspectiva mais pessoal, mais personalizada para desenvolver o que era preciso.

UX te dá liberdade, mas você precisa estar atento aos objetivos do negócio, de quem te financia e, claro, do nosso querido U de UX: o usuário. Mas…

Lembre-se que UX não é usuário.

Por mais que vendam isso, o buraco é mais embaixo.

3) Entender não haver requisitos nem receitas para atuar

Saber o que é ideal, o que são boas práticas já é suficiente de início — e ao resto também. Mais uma vez então pratiquei! E catei referências. Entupi-me de referências e trouxe o que era interessante para mim.

Uma coisa para se atentar por aqui: há muito conteúdo nessa área, muita gente criando e compartilhando, etc. Não necessariamente tudo o que você encontrar será útil.

É importante trazer o que é interessante para você e seu contexto, sempre.

Aliás, não querer abraçar o mundo também é importante — não tente saber tudo sobre tudo. New Kids on the Block já dizia: Step by step, oh, baby. Este artigo mesmo pode ter muita informação que não te ajudará em bulhufas.

Voltando às referências, darei um exemplo: se eu precisava criar uma página de início/home, buscava exemplos, um sample/trecho, fazia igual Melody com Faking Love de Anitta: deixava agradável, curtível, conceitual, brasileiro.

Há muitos bancos de imagens focados nisso, como, por exemplo, o Screenlane. Além disso, buscava empresas/plataformas semelhantes para estudar (a análise de concorrência/benchmarking corria braba aqui!).

4) Entender que não preciso prototipar um megazord para ser algo usável e bonito

Vou mandar a real: sou um saco, chata para cacete comigo mesma. Quero sempre fazer coisas incríveis, belíssimas e inéditas sem ter a experiência necessária para tal. O que me trouxe (traz) muitos momentos complicados de ansiedade e desespero. Então o que recomendo: respeitem o tempo de vocês. E sejam razoáveis.

Aliás, se não gostamos de prototipar, tudo bem também. Mas podemos prototipar um Megazord? Ué, sim. Inclusive, para mim, para o meu ego, preciso. No entanto ao menos sei que não preciso fazê-lo sempre? Sei lá. Continuo trabalhando isso. Não é porque migrei que tudo se resolveu, não, visse?

Cursos que foram minha virada de chave

Quais cursos/bootcamps fiz? Váaarios! Mas citarei 2 que foram a minha virada de chave, ou seja, realmente me fizeram enxergar que, a partir de agora, sou designer de produtos: Product Design da Gama Academy (financiado) e do Camp da ioasys (gratuito para selecionados).

Gama me aprofundou em UX, design, cultura ágil e como criar sua imagem ao mercado. Além de tudo, o financiamento do curso foi pela Revelo, parceira deles que também é uma plataforma de recrutamento, onde consegui minha primeira oportunidade.

ioasys me fez aprofundar em UI e organização de projetos. O projeto que fiz durante o camp foi o meu primeiro case em portfólio. Foi com ele que chamei atenção à primeira contratação.

Curiosidade: dizem que, para juristas, pesquisa não é uma coisa incomum, pois estamos acostumados a fazer imersões em assuntos variados (de maneira até duvidosa) para lidar com demandas, então, naturalmente, podemos ser bons UX Researchers. Ouvi muito sobre isso durante os cursos.

Eu, particularmente, frisando a questão de assuntos duvidosos, já me aprofundei em umas coisas bem nada a ver porque tenho, por passatempo, escrever histórias. Coisas assim: “Como descrever um sequestro”. Então, tanto no lado pessoal e profissional, é normal para mim.

Mas reza a lenda que por mais que digam isso, muitos colegas juristas migrantes que conheci estão NEM AÍ para research. Preferem UI.

Portfólio: tão citado e polêmico

Mais uma imagem da cantora Inês Brasil, agora com um microfone próximo a boca. A legenda é: “não vou falar a verdade porque se não vou ter probrema”
Aqui temos uma variação do “quem somos nós pra julgar?” após ou na expectativa de julgar horrores.

Tão polêmico como a grávida de Taubaté quanto ao que aconteceu com o Jay-Z naquele bendito elevador, temos o portfólio e a tarefa árdua de moldá-lo. A briga foi feia, teve dedo na cara, teve voz alterada… mas não me calei e fiz casos de estudo (case study) para o santo! Ufa, meus queridos. Não é fácil, mas a gente chega lá.

Postei o meu primeiro case após 7 meses de estudo — aquele do camp da ioasys que citei — mesmo já tendo feito alguns cases em cursos. Eu só discuti comigo mesma que já estava na hora, mas é mentira: é porque eu estava ansiosa ao ver tantas vagas e não aplicava porque não tinha portfólio.

Demorei 1 mês para formular o infeliz (o case) e quase desisti no processo porque foi muito cansativo psicologicamente fazê-lo por milhões de motivos: eu, dando a doida; não sabendo onde deveria postar, não sabendo se estava certo, não sabendo se estava grande ou pequeno demais, enfim.

Sinceramente foi um saco — perdoem meu linguajar, mas acredito que ser sincera pode ser benéfico a alguém no momento —, mas pelo menos eu me sentia mais preparada e mais confiante com o que fiz do que com os outros anteriores.

Imagem de uma mulher digitando em uma caixa registradora com a legenda: “245% ódio”
Pensa num estresse. Foi o que senti.

O problema maior foi criar um modelo/estrutura do caso porque me preocupava tanto com a parte visual quanto com a hierarquia do conteúdo e também escrita. Apontar o que foi relevante no trabalho e descrevê-lo de forma que prendesse quem o via, também levou tempo. A real é que se leva tempo, mesmo; o projeto em si e a estrutura do caso. Eu simplesmente não imaginava isso.

Digamos que você fez um bolo (tudo bem que este exemplo é péssimo vindo de alguém que não sabe fazer um bolo, mas foque no foco). Fazê-lo é uma coisa, explicar como o fez é outra. Estudos de casos/cases é explicar como você fez. Todo mundo lhe diz que é preciso fazer, mas ninguém pontua muito quão pode ser difícil, também.

Sim, há quem conseguiu uma oportunidade sem ter um case/portfólio, mas é muito relativo, pouco ocorre, então, busque fazer o que é mais certo para cumprir o seu objetivo, caso queira, de fato, migrar. A concorrência tá braba, migues.

Aliás, casos fictícios são passíveis, redesigns são passíveis, tudo o que imaginar que for atrelado ao UX, que demonstre sua prática, é viável a portfólio, só não vale plágio (não preciso explicar a gravidade aos juristas, certo?). Se não tiver ideia do que fazer, use o que praticar nos cursos que fizer. Ainda precisa? Pense num problema comum ao seu dia a dia e busque uma solução a ele, por exemplo. No início, pensei em fazer um aplicativo de controle de validade de comidas porque muitas estavam estragando aqui em casa (um aplicativo só para isso? Sim, porque eu estava começando). Use seu cotidiano mesmo.

Também é possível ter ideias de casos de estudo no Google/comunidades de UX. Há bastantes sugestões para casos fictícios por aí. Pegue um que se interesse mais e manda ver! Detalhe de forma estratégica seu aprendizado e o que executou. Quem quer contratar precisa saber se possui o raciocínio da área, então demonstrar é essencial.

Outra coisa: não precisa se intimidar. Eu me senti intimidada ao visualizar trabalhos e achar que não chegaria ao nível, mas ninguém sabe os degraus que a pessoa teve que subir para chegar até ali. Foque nos seus degraus: respeite seu tempo. É sobre isso (sobre paciência e cautela) e tá tudo bem (tá tudo bem, sério mesmo). A pressa é inimiga do resultado razoável e suficiente para seus objetivos (perfeição não existe!).

Inclusive, mais importante: peça ajuda. Tem muita gente boa nessa grande comunidade de UX. Peça ajuda! Peça ajuda. PEÇA AJUDA.

Imagem da cantora Gretchen apontando o dedo com a legenda: “e com certeza a noite alta vem”
Gretchen sempre presou por esse método de capacitação. Faça como ela.

Uma coisa interessante a comentar: estou reformando o meu portfólio. Não é algo que se faz uma vez e pronto, acabou. Inclusive porque as exigências mudam conforme você se torna mais experiente. As expectativas são outras. Deve ser atualizado de acordo com o que quer refletir sobre suas experiências. Aliás, tô até elaborando um artigo sobre essa reforma! :) Segue aí no Medium que quando eu postar, ele notifica.

LinkedIn, currículo e a carreira de vendas que ninguém admite

Uma especialidade que adquiri, ao migrar, é mexer no LinkedIn. Realmente engoli o tanto que pude sobre essa rede de profissionais. Mas não somente isso, então posso separar o que aprendi com o seguinte:

1) Formato de currículo é algo relativo

Te conto que rola umas polêmicas. Sobre formato, adição de foto, enfim. Uma parte do pessoal de recrutamento diz que assim e assado é melhor, outro lado diz que não assim, mas cozido é melhor ainda… O que fazer, então? Direi uma palavra que minha galera do Direito ama:

Depende.

Criativos também amam essa palavra. Nem parece que mudei de profissão, só de nomenclatura.

O que fiz no início: um currículo bem enxuto, listando meus conhecimentos em UX com muitas palavras-chave e também listei meus trabalhos anteriores, apenas os que poderiam linkar o conhecimento à área de UX. Fiz no Figma, inclusive. À época, mal sabia usar a ferramenta. Foi um jeito de eu treinar nele!

Tenho até arquivado aqui. Com o tempo fui dando uma aprimorada, é claro. Daí ficou assim antes de eu fazer como faço hoje.

O que faço hoje: uso um modelo de currículo simples que a Se Candidate, Mulher! disponibilizou — e é uma instituição massa, especialista em incluir mulheres no mercado de trabalho, já acompanha aí —, fiz umas alterações, mantive o layout e mandei bala. Então a dica que dou: busque exemplos de currículos formulados por pessoas que fazem recrutamento.

Elas que analisam currículos. Elas sabem do que precisam. Elas sabem todos os pontos observados quando se analisa um currículo. Isso aqui é puro UX: você está fazendo seu currículo para quem? Acho que deu para entender, né?

“Ah, mas a empresa que quero aplicar não é tão específica, são mais flexíveis, blá blá blá”. Adapte-se a eles, então. Não tem problema nisso. Pelo contrário, é perfeito! Agrade quem receberá sua candidatura. Faça até variações de currículo, se quiser.

Outra dica que dou é: faça um formato que possa ser lido por Inteligências Artificiais. Apesar de eu não ser lá muito fã desse método, temos que nos adaptar, né? Os boletos estão à espera.

Particularmente gosto do formato mais simples porque é mais prático para atualizar. É um pouco mais extenso, mas reflete o que quero passar, quais pontos e palavras-chave. Até então, nunca deu problema, pelo contrário. Se funciona bem e me agrada, então tá perfeito.

2) LinkedIn pode e deve servir de ponte

Não tem LinkedIn? Corre e faz um! Não que você seja obrigado a ter, mas recomendo horrores. Deixa eu criar um convencimento:

Já consegui 3 oportunidades de trabalho pelo Linkedin.

Mas como é isso?

O LinkedIn é uma rede social. Como você se apresenta e interage demonstra muito sobre você e seu perfil. Pode ser uma forma de te pré-avaliar e entender se você se engaja a algo e como o faz. Mas calma que ninguém precisa transformar o LinkedIn em blog, calma.

Você também pode obter mais conhecimento, saber das novidades da área, pedir conselhos e ajuda a outras pessoas profissionais. É fazer o tal do networking.

O que fiz: adicionei tudo o que era gente da área. Eu já tinha como jurista, mas mal usava. Então quis sair do círculo jurídico e enfiei um monte de gente de design. Com isso, comecei a interagir, comecei a obter mais conteúdos. Aos poucos, fui me acostumando com aquele ritmo e as comunidades de UX ajudaram muito a entender como funcionava.

Pedi dicas de pessoas mais experientes por mensagem lá e indicações de vagas às pessoas recrutadoras. Resumindo? Comecei a ser descarada. Falei com tudo que era gente. Obtive feedbacks, obtive dicas. Isso só fomentou o meu conhecimento.

Depois comecei às vezes a compartilhar conteúdos, desabafos, minhas visões sobre algumas questões, às vezes de UX, de design, às vezes até jurídicas, o que me gerou um engajamento. Sempre gostei de escrever mesmo, então era tranquilo! E não só escrever, mas escrever do meu jeito.

3) A carreira de vendas vem com tudo

Venho com verdades: você obtém uma carreira de vendas embutida no processo de migração. Sim, você precisa aprender a vender. Aliás, não é qualquer produto, não é qualquer serviço.

É preciso vender você.

As pessoas querem articulação, querem que tenha as respostas na ponta da língua, que demonstre ter conhecimento (mesmo que seja um pequeno embrião na área) ou, ao menos, aptidão; que demonstre que quer e consegue adquirir conhecimento ou, ainda pior, desejam que você o tenha, de fato.

Agora, sendo ainda mais franca, você pode ter tudo isso, mas mesmo assim pode precisar que alguém seja só simplesmente empático e enfim lhe dê a primeira chance.

Eu consegui a minha na Revelo, como mencionei antes. A empresa viu meu perfil lá e entrou em contato. Eu nem lembrava ter perfil lá. Nem lembrava a última vez que atualizei. Para você entender que às vezes vem da forma mais inesperada possível.

Não há fórmula mágica. Há persistência e resiliência. Há dias e dias; doloridos, de esperança. A batalha é árdua, mas a recompensa é simplesmente avassaladora. Apenas não pare, busque se aprimorar, mas tenha estratégia. :)

Hannah deve ter lido esse trecho acima rindo horrores da minha cara por relembrar as mil vezes que surtei no processo pensando que não daria certo, que eu ia me lascar e voltar pro trabalho anterior. Então deixo essa mensagem a vocês: com apoio, a gente vai muito mais além. Se vocês não tem no círculo íntimo, podem encontrar por aqui, pelas redes. Não fiquem só e, novamente: BUSQUEM AJUDA.

Comunidades é a parte mais gostosa!

Estar em uma comunidade é essencial para a vida de qualquer iniciante em UX para mim. Na verdade, não importa sua senioridade. É para sempre!

Comecei no VagasUX e sempre me foi o paraíso, mas tem muitas outras: Todas as Letras, Jovens UX & UI, Clube de UI da TheStarter, Clube do UX Writing, UX em Casa, Tribo Criativa, Sou Junior, PretUX.

Para especificamente mulheres, temos: Damas de UI (eu que fiz 🤎🤍), Ladies That UX, UX para Minas Pretas, etc.

Estar ali é sentir acolhimento e perceber que muita gente tá sofrendo como tu! O que cria uma onda de empatia e é conhecimento atirado e troca para tudo que é lado.

Imagem de uma mulher loira com o olhar de satisfação e a legenda: “ai sinceramente? PERFEITO””
Perfeito até relembrar que perfeição não existe, mas é quase, viu?

Notas finais

E é isso! Fico feliz que tenha lido até aqui. Espero que tenha gostado, ao menos. Comente o que achou, inclusive! Eu adoraria saber!

Uma curiosidade: comecei a redigir esse texto um pouco antes de conseguir a minha primeira oportunidade na área. Foi muito legal observar como as coisas mudaram e o quanto aprendi. :)

Se você é iniciante e está precisando de alguma orientação em relação à área, me coloco à disposição no meu LinkedIn.

Enfim, cabou-se!

Um cheiro,

Eu, a Bea. 💛

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